Não exagere! Misturar água sanitária com sabão ou outro produto é perigoso
Rodrigo Lara, Colaboração para Tilt, 16/05/2020 04h00, Atualizada em 16/05/2020 10h18
“Vocês estão esterilizando TUDO que chega na casa de vcs?”, perguntou Titi Müller no Twitter. TU-DO. Alimentos, embalagens, chão, mão, sacolas… Não está fácil essa rotina de limpeza e desinfecção que virou nossos dias na quarentena. Mas, calma: o cuidado é importante, o excesso dele é perigoso.
Água com sabão e álcool ajudam muito na prevenção ao coronavírus, mas é a água sanitária resolve melhor na hora da limpeza pesada ou da higienização de alimentos. Só que, por se tratar de uma substância muito poderosa, ela deve ser administrada com mais cuidado e não pode ser misturada com outra coisa, senão água.
Se você quer redobrar os cuidados para evitar a contaminação, não tente misturar água sanitária com outros produtos, porque isso pode fazer com que a substância libere vapores tóxicos. Um exemplo é a cloramina —resultado que pode vir da mistura do hipoclorito de sódio com a amônia (NH3) presente em alguns produtos de limpeza ou, ainda, outros compostos que tenham nitrogênio.
O que a água sanitária faz?
Ela é a diluição de um sal (NaClO, hipoclorito de sódio) em água —ou seja, apesar de ser chamada de cloro, é, na verdade, hipoclorito, um derivado do cloro. “Mesmo sendo uma solução diluída, a água sanitária, como é vendida ao consumidor, ainda é muito agressiva e não deve ser usada pura”, diz Antonio Florencio, doutor em química pela Universidade Federal Fluminense (UFF).
O que fazer, então? Colocar mais água. Ao contrário do que muitos pensam, ao fazer isso você não está “enfraquecendo” a substância, mas mudando algumas características dela. Diluído em água, o hipoclorito de sódio passa por hidrólise e assim surge o ácido hipocloroso (HClO), uma substância antisséptica e um poderoso oxidante.
Em contato com as estruturas dos micro-organismos, o alto fator pH da água sanitária afeta o funcionamento das proteínas e enzimas que eles usam para sobreviver.
O que o sabão faz? Sabão, sabonetes e detergentes possuem duas funções. A primeira é a de emulsificante, ou seja, eles ajudam a unir moléculas de água e gorduras, que normalmente não ficariam unidas. A segunda é a de remoção mecânica, que faz a sujeira e os micro-organismos saírem das mãos, por exemplo, junto com a água.
As moléculas de sabão têm duas “pontas”: uma hidrofílica, capaz de se prender às moléculas de água, e outra hidrofóbica, que se une às moléculas de óleos, gorduras e sujeiras. A função emulsificante faz com que o sabão grude na proteção do coronavírus, feita de gordura, rompendo-a. Uma vez que você enxágua, essas pontes de moléculas de água e de restos de vírus e sujeiras são carregadas ralo abaixo.
“No caso do coronavírus ou de outros vírus, como o da gripe, há uma capa de gordura chamada envelope, cuja função é proteger o micro-organismo do ambiente. Essa capa é dissolvida por álcool ou detergente. Uma vez que isso ocorre, o vírus fica totalmente inativo, não consegue mais infectar ninguém”, explica Laura de Freitas, doutora em Biociências e Biotecnologia na Unesp (Universidade Estadual Paulista).
Há vírus que não contam com esse envelope de gordura, mas eles ainda são eliminados pelo sabão. “Mas por um outro mecanismo, que é a interação com as proteínas que compõem esses micro-organismos”, diz a especialista.
A ação do sabão sobre os vírus costuma ser imediata, mas a eficiência depende da concentração de germes em locais como as mãos. Para garantir a limpeza em toda a área, recomenda-se lavar as mãos de maneira lenta e atenciosa.
O que o álcool faz?
O álcool também dissolve os lipídios (gordura) que envolvem vírus e bactérias e também mexe com as proteínas dos germes, gerando um efeito parecido ao de uma coagulação. A diferença é que, normalmente, a gente não enxágua após o uso, então não há a remoção mecânica da sujeira.
Mas é importante saber que nem todo álcool é eficiente. “O etanol [que todo mundo compra no supermercado para usar no dia a dia] é eficiente, mas apenas se usado em concentrações entre 60% e 80%”, explica a especialista. “No caso do álcool com concentração próxima aos 70% [a do álcool gel], o vírus leva entre 30 segundos e um minuto para ser inutilizado. No caso da limpeza das mãos, é o tempo suficiente para passar o produto e esperar evaporar”.
Para saber a concentração do álcool, olhe a embalagem. A informação geralmente está escrita assim: 46º INPM. A sigla se refere a Instituto Nacional de Pesos e Medidas e o número diz a proporção da mistura entre água e álcool no produto (46% de massa de álcool puro e 54% de massa de água).
Encontrar álcool líquido com concentração entre 60% e 80% à venda não é uma tarefa muito simples —especialmente durante a pandemia. Não tente mudar a concentração do álcool etanol ou de qualquer outro tipo de álcool sozinho, isso pode deixar a substância ineficiente ou causar danos à saúde.
Neste caso, a recomendação é usar sabão, que é a forma mais eficaz e barata de combater o vírus.
Fonte: UOL/Tilt