Hub de inovação Garagem substitui programas de aceleração na Unilever

Hub de inovação Garagem substitui programas de aceleração na Unilever

Household Innovation, 18/01/2024

Inovação aberta, intraempreendedorismo e um pilar de desenvolvimento e cultura são as frentes de atuação do hub

Em meio a um cenário de inflação global e mudança no comportamento dos consumidores — que passaram a procurar produtos mais baratos –, ter um vasto portfólio pode ser um fator importante para se manter forte no mercado. Mas a inovação também é fundamental para as companhias que querem estar sempre à frente dos concorrentes.

Para conseguir esses dois propósitos, uma das estratégias mais eficientes é investir em startups, acredita a Unilever. O grupo, que tem mais de 400 marcas em 190 países, tem concentrado esforços em se abrir para o ecossistema de tecnologia, diz Cecília Varanda, gerente de inovação da companhia. “Mas criar inovação em uma corporação centenária que vende bens de consumo não é um processo trivial”, diz a executiva.

Varanda comanda o hub de inovação da empresa, que leva o nome de Garagem. O hub atua em três frentes: inovação aberta (com o nome de Lever Up), intraempreendedorismo e um pilar de desenvolvimento e cultura. “Dentro do pilar de inovação aberta, consideramos importante chegar ao ecossistema como uma marca que inova, por isso estamos intensificando nossa presença em eventos, com executivos C-level fazendo contatos próximos com startups de tecnologia”, acrescenta.

Novo modelo de aproximação com startups

O relacionamento da Unilever com as startups também precisou de ajustes, relata Cecília. Em 2018 e 2019, a empresa oferecia programas de aceleração. Hoje, o modelo segue uma proposta de “always on”, isto é, a companhia está sempre aberta a buscar soluções no ecossistema, desde que tenham fit com alguma demanda das unidades de negócio do grupo.

“Tivemos que aprender muito, assim como outras grandes empresas. Percebemos que ainda tínhamos que evoluir para aceitar essa relação entre corporação e startup. Por exemplo, em um processo de aceleração, o empreendedor tem uma expectativa de, em pelo menos seis meses, ter uma prova de conceito. A gente travava um pouco essas expectativas. Ouvimos os feedbacks e reformulamos o programa”, explica a executiva.

A empresa hoje trabalha com parceiros de fora, como a consultoria ACE Cortex, para avaliar as potenciais startups parceiras e também as oportunidades de negócio. “Eles nos ajudam com o scanning de mercado, fazem uma avaliação das startups e trazem uma shortlist. Depois, fazemos uma reunião de matchmaking e decidimos se vamos seguir par a prova de conceito”, explica a executiva.

Desde que a empresa optou pelo modelo “always on”, mais de 1.300 startups foram avaliadas por parceiros, além de 175 avaliadas por equipes internas da Unilever. Já foram realizadas 61 sessões de matchmaking e pelo menos 16 provas de conceito.

Momento de seca não atrapalha

Embora a Unilever não seja uma investidora direta das startups com quem fecha parcerias, a empresa procura se manter atenta aos movimentos de mercado. O recente “inverno das startups”, com déficit de capital, redução dos valuations e investidores menos tolerantes ao risco, não teve impacto direto na quantidade de startups selecionadas como parceiras, afirma Varanda.

“Vimos que algumas startups precisavam se reestruturar e, mas não tinham os recursos humanos para isso. Mas, nas nossas avaliações, isso é algo que a gente consegue verificar na primeira etapa. As startups com quem fazemos parcerias estão aptas a trabalhar numa empresa do tamanho da Unilever”, diz a executiva.

Mercado consumidor mais resistente

Com o cenário global de inflação alta e menor poder de compra, empresas como a Unilever precisam se diferenciar para sobreviver no mercado, avalia Thomas Monteiro, analista da Investing.com. “À medida que o mercado consumidor se torna cada vez mais apertado devido aos vários eventos macroeconômicos no horizonte, as empresas precisarão se destacar tanto pela eficiência quanto pela capacidade de gerar novas ofertas.”

Para ele, a inovação estrutural — ou seja, na escala de produção e no gerenciamento da cadeia de suprimentos — será fundamental para a Unilever, pois ajudará as margens a permanecerem constantes.

“Pelo lado do produto, prevemos um tempo mais difícil para inovações mais disruptivas. Obviamente, a inovação nem sempre segue regras e pode acontecer a qualquer momento. Mas o investimento em produtos mais revolucionários deve ser menos intenso, caso a desaceleração esperada nos gastos do consumidor se materialize em 2024”, afirma Monteiro.

Fonte: Época Negócios 17.01.2024