Futuro da limpeza é biodegradável, verde e sustentável
Household Innovation, 29/10/2024
Preocupações com mudanças climáticas e com os impactos ambientais do consumo impulsionam mudança de hábitos
Por Estela Mendonça
O sentido de urgência nunca esteve tão evidente e vem exigindo respostas rápidas para reverter o cenário de preocupação com os impactos ambientais do consumo. Estudo da consultoria Bain & Company, que envolveu 19 mil consumidores em 10 países, aponta que 61% das pessoas aumentaram sua preocupação com as mudanças climáticas nos últimos dois anos, principalmente após vivenciarem eventos climáticos extremos. Enquanto 76% dos consumidores globais acreditam que um estilo de vida sustentável é importante “porque suas ações têm impacto”, os consumidores no Brasil (90%), Indonésia (90%) e Itália (84%) sentem um senso ainda maior de responsabilidade por suas próprias pegadas ambientais.
Embora a experiência pessoal com clima extremo seja a principal razão pela qual os consumidores dizem que decidiram comprar produtos sustentáveis, 35% dizem que fizeram a escolha devido a artigos de mídia e documentários, 33% atribuem isso à disponibilidade e 28% às campanhas de conscientização de marcas e varejistas.
A pesquisa da Bain aponta para a necessidade de as empresas de consumo enxergar os consumidores como um grupo complexo de segmentos específicos de clientes, priorizando embalagens que sejam recicladas e recicláveis e formando parcerias em toda a cadeia de valor para criar maior acessibilidade a produtos sustentáveis.
Práticas sustentáveis
A Mintel lançou em setembro sua pesquisa anual Global Outlook on Sustainability, que entrevistou 10 mil consumidores em 10 países incluindo o Brasil. De acordo com o estudo, as principais práticas sustentáveis citadas são embalagens recicladas, seguidas pela menção de comprar menos roupas novas.
Competitividade e sustentabilidade
A importância da sustentabilidade para os consumidores brasileiros tem aumentado. A pesquisa Sustentabilidade & Opinião Pública, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgada no início de outubro, reforça isso.
Embora tenha reduzido de 26% em 2023 para 24% este ano a parcela dos entrevistados que disseram que sempre consomem produtos ambientalmente sustentáveis, no mesmo período, subiu de 13% para 15% os que compram esses produtos mesmo que sejam muito mais caros.
“Antigamente, quando se falava em competitividade, era só preço. Hoje, é preço e pegada ambiental. Por isso, essas empresas estão investindo na gestão eficiente de resíduos; em processos produtivos mais limpos, que racionalizam o uso de energia, água e matérias-primas e em outras iniciativas verdes. A sustentabilidade já está nos planos estratégicos das indústrias e é nessa direção que o Brasil precisa caminhar rapidamente”, observa o superintendente de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI, Davi Bomtempo.
Previsões surpreendentes para saneantes
De 2024 a 2034, a taxa de crescimento anual composta (CAGR) do mercado global de produtos de limpeza ecológicos deverá ser de 21,01%, de acordo com a Prophecy Market Insights, que prevê que a participação passará de US$ 2,4 bilhões em 2024 para US$ 13,5 bilhões até 2034.
Enzimas e óleos essenciais
Priscilla Saraiva, gerente comercial e marketing da Topland
Empresas de todos os portes estão buscando soluções mais sustentáveis, como a TOP Vegan, da Topland, que vem ampliando seu portfólio. Em outubro, lançou o Lava Roupas Líquido Concentrado, que possui três tipos de enzimas vegetais que garantem a limpeza das manchas mais difíceis, além de ser biodegradável. Também são novidade os Panos Umedecidos, disponíveis nas versões Limpa Vidros, Limpa Gordura e Multiuso (Erva Doce). Elaborados com matérias-primas naturais de origem vegetal, com alta absorção, oferecem maior rendimento, enquanto suas fragrâncias de óleos essenciais e a presença de Aloe Vera garantem uma experiência de limpeza suave e sem agredir suas mãos.
Complementando os lançamentos, a TOP Vegan, apresenta o Amaciante Concentrado, com cápsulas de fragrâncias que prolongam a perfumação. “A linha TOP Vegan é 100% para todos. É possível aliar desempenho e sustentabilidade, atendendo às diferentes necessidades dos consumidores de forma consciente”, destaca Priscilla Saraiva, gerente comercial e marketing da Topland, enfatizando a diversidade e a eficácia dos produtos.
Inseticida extraído do crisântemo
Fernando Contreras, head de marketing de Repelex
Outro exemplo são os novos sprays inseticidas Repelex, que foram formulados com piretrina, um ativo natural derivado da flor do crisântemo (Chrysanthemum cinerariaefolium), eficaz para eliminar e repelir os insetos, ao mesmo tempo em que atende ao consumidor que se preocupa com a saúde quando usa inseticidas.
“É aí que entra Repelex, preenchendo essa lacuna no mercado ao oferecer um inseticida à base de água e ativo de origem natural, igualmente eficaz às outras opções encontradas atualmente e oferecendo proteção e tranquilidade para seus familiares e pets”, explica Fernando Guillemin Contreras, head de marketing de Repelex na Reckitt Hygiene Comercial.
Lava-louças 100% natural
Marcella Zambardino, cofundadora da Positiv.a
A Positiv.a, marca ecológica de produtos de limpeza e autocuidado, em julho, relançou o lava-louças manual com nova fórmula, sem saponificação, 100% natural e mais eficaz. A novidade é que os produtos hidratam as mãos na lavagem das louças e tem perfume natural. O rendimento também melhorou: 420ml lavam 3500 pratos. As três novas fragrâncias – Laranja, Lavanda com Íris e Bacuri e Capim Limão com Alecrim e Cupuaçu – foram desenvolvidas com exclusividade com parte das matérias-primas vindas de upcycling.
“Precisamos parar de normalizar que o detergente destrua nossas mãos. Você sabia que muitos detergentes comuns contêm derivados de petróleo? E o pior é que você pode acabar ingerindo esses resíduos que ficam na louça aos poucos. Por isso, nossos lava louças são 100% naturais, livres de derivados de petróleo e de qualquer substância nociva”, explica Marcella Zambardino, cofundadora da marca, destacando que as mudanças foram feitas a partir de feedbacks dos próprios consumidores.
Lançamentos internacionais
Nos Estados Unidos, a Cleancult lançou em setembro, folhas de dissolução rápida de espuma de limpeza de vaso sanitário O produto, que é biodegradável, foi desenvolvido para lidar com manchas difíceis, depósitos minerais e marcas. Eles não contêm alvejante de cloro, ácidos minerais ou fosfatos.
Na Europa, a Homethings anunciou um novo detergente para louça apresentado em forma de pó concentrado embalado em um sachê de papel totalmente reciclável. Os consumidores podem transformar esse pó em um gel, misturando-o com água da torneira em casa, reduzindo a circulação e descarte de embalagens plásticas.
Compromisso em toda a cadeia
Ricardo Pedro, gerente técnico da IMCD
A grande penetração e o uso diário da maioria dos produtos de limpeza nos lares brasileiros, para Ricardo Pedro, gerente técnico da IMCD, evidenciam o impacto dos saneantes na sustentabilidade. “Como distribuidora, temos a responsabilidade de apoiar as jornadas de nossos clientes na utilização de soluções sustentáveis, que causem impacto positivo em seus negócios e no planeta”.
Por meio do programa Sustainable Solutions, a IMCD considera o quadro completo da sustentabilidade: a fonte dos materiais, o resultado quando formulados e seu uso pelo consumidor. “Além de ingredientes de fontes renováveis, nos preocupamos com a melhor maneira de combiná-los em formulações sustentáveis, entendendo que elas podem entregar mais benefícios quando seus componentes são usados em condições adequadas”, diz Pedro, elencando temperatura, pH, concentrações relativas, força iônica, potencial redox, formatos e sinergia com ingredientes que maximizem seu desempenho funcional e estrutural.
Pedro explica que o portfólio da empresa privilegia ingredientes multifuncionais, que permitem formulações minimalistas, aumentam a estabilidade e reduzem os custos dos produtos acabados. “Recentemente, desenvolvemos o Polysanitizer FG para higienização de frutas, verduras, legumes e ovos, que também pode ser utilizado para limpeza e sanitização de bancadas, em diluições de 1:50 até 1:400, em 30 segundos”. De grau alimentício, a solução é base vegetal, biodegradável, sem cloro e não requer enxágue.
A empresa também desenvolveu um limpador e um protetor de placas solares que não causam danos aos materiais, tornando o trabalho do operador mais prático e menos frequente e insalubre, “Combinamos o poder de limpeza não corrosivo do TEKGrade® GA com a formação de filme protetor do SorezTM HS-205 Polymer, que protegem os materiais, aumentam seu ciclo econômico e maximizam a eficiência das placas”, afirma o executivo da IMCD.
Solventes de óleos vegetais
Gabriela Crisol, pesquisadora em P&D Home Care da Stepan
Gabriela Crisol, pesquisadora em P&D Home Care da Stepan, ressalta que a busca por green products não é de hoje. “O interesse por produtos de limpeza com esse perfil é antigo e continua sendo de grande relevância atualmente”, afirma, lembrando que muitos fatores classificam uma fórmula como “verde”: o índice de naturalidade, a origem de fontes de ingredientes biorrenováveis ou o perfil ecológico.
“De um lado, os consumidores buscam o eco-friendly devido à conscientização sobre os riscos à saúde e às preocupações ambientais. Do outro, os formuladores focam em ingredientes alternativos mais seguros e em novos avanços tecnológicos que atendam às necessidades de seus clientes”, avalia Gabriela, que destaca a demanda crescente por solventes ecológicos.
A pesquisadora informa que a Stepan Company apresenta um portfólio único de solventes de ésteres metílicos derivados de ácidos graxos de óleos vegetais. O destaque é o STEPAN® C-65, um éster metílico de oleato/palmitato proveniente de óleo de coco, indicado para aplicações de limpeza doméstica e industrial, além de desengordurantes.
Segundo Gabriela, o STEPAN® C-65 é um óleo vegetal de cadeia longa, biodegradável, com menor teor de compostos orgânicos voláteis (COV) e um ponto de fulgor alto (>94°C), em comparação com solventes tradicionais à base de petróleo. Além disso, baixas concentrações são suficientes para uma limpeza pesada eficaz, garantindo um produto mais sustentável e seguro para o manuseio por parte dos fabricantes.
O STEPAN® C-65 pode ser usado em limpadores domésticos e industriais, como multiusos e desengordurantes, incluindo aplicações em peças metálicas e removedores de tinta. Ele também tem excelente estabilidade em ciclos de congelamento e descongelamento. “Manter alto poder de solvência com menor impacto ambiental é importante para você? Então, tem que experimentar o STEPAN® C-65”, recomenda Gabriela.
Surfactantes sustentáveis
Renata Piva, coordenadora de marketing na América Latina
Acelerar a transição para produtos de base biológica faz parte do compromisso da Croda para 2030, que é de gerar impacto positivo no clima, no solo e em pessoas. “A utilização de materiais de base biológica contribui para a redução das emissões de CO2, uma vez que as plantas absorvem dióxido de carbono durante o crescimento”, explica Renata Piva, coordenadora de marketing na América Latina.
Segundo Renata, em sua busca por ingredientes de alta performance e sustentabilidade, a Croda foi pioneira ao desenvolver uma planta capaz de produzir óxido de etileno (OE) de base biológica. Isso resultou na linha ECO, que oferece surfactantes etoxilados sustentáveis, 100% biológicos, biodegradáveis, sem comprometer o desempenho.
“Utilizando os etoxilados ECO da Croda, os formuladores não só poderão substituir os análogos não iônicos à base de petroquímicos, sem sacrificar o desempenho, como também poderão substituir as alternativas ‘naturais’ e menos eficazes do mercado” destaca Renata.
Além disso, a Croda investiu em energia renovável para sua planta ECO, utilizando gás de aterros sanitários e energia solar. Segundo a executiva, capturar e converter o gás do aterro sanitário em vapor e eletricidade evita a liberação de metano na atmosfera, que tem um potencial de aquecimento global 25 vezes maior do que o CO2.
“Transformar a indústria sem comprometer o planeta: é esse o futuro que a Croda está construindo”, afirma Renata.
Prolongando a vida útil das roupas
Carolina Velásquez, líder de indústria de Home e Personal Care da IFF
Carolina Velásquez, líder de indústria de Home e Personal Care da IFF, avalia que, em um contexto em que 44% dos brasileiros gostariam de ver mais esforços das empresas para reduzir suas pegadas de carbono, segundo pesquisa da Mintel, contribuir para prolongar a vida útil de uma peça de roupa é um diferencial dos mais valorizados. “Se prolongarmos uma peça de roupa por apenas mais nove meses, a redução potencial da pegada de carbono, água e resíduos pode ser de 20 a 30%”, defende, com base em dados da Ellen MacArthur Foundation.
Considerando que o Brasil descarta mais de 4 milhões de toneladas de resíduos têxteis por ano, de acordo com levantamento da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), Carolina acredita que a indústria de detergentes para roupa tem a oportunidade de conscientizar o consumidor sobre a importância de aumentar a vida útil de suas peças.
Para atender essa demanda, a IFF traz ao mercado brasileiro REVITALENZ®, enzima celulase para detergentes líquidos e em pó que entrega três benefícios em 1: renovação, proteção e brancura. “REVITALENZ® mantém as peças com aparência de novas por mais tempo, reduzindo a necessidade de troca de roupas; protege o tecido de algodão dos efeitos do pilling e renova o tecido já afetado; e mantém as cores e os brancos brilhantes e vibrantes, mesmo após várias lavagens”, garante Carolina.
“Ao ajudarmos a prolongar a vida útil das roupas, não só aumentamos a satisfação do consumidor, mas também contribuímos significativamente para a sustentabilidade ambiental”, conclui Carolina.
Menor impacto ambiental
Mateus Camelim, analista de marketing pleno de home care da Chemyunion
Mateus Camelim, analista de marketing pleno de home care da Chemyunion, comenta que, ao longo da história, a relação do ser humano com os tecidos evoluiu significativamente, desde os primeiros artigos têxteis feitos manualmente por volta de 6000 a.C. até invenções como a roda de tear em 500 a.C. e a máquina a vapor durante a Revolução Industrial.
“Essas inovações revolucionaram a produção de roupas, impulsionando o modelo de negócios conhecido como fast fashion, que prioriza a produção em massa e de baixo custo, mas que gera um enorme impacto ambiental”, observa Camelim, mencionando a curta durabilidade das roupas e a contaminação da água por conta do uso de produtos químicos.
Em resposta a esses desafios, o movimento slow fashion surgiu como uma alternativa sustentável, promovendo o consumo consciente e incentivando a compra de peças de alta qualidade e durabilidade. “Nesse contexto, a busca por soluções que preservem os tecidos e reduzam o impacto ambiental se intensificou, abrindo espaço para inovações na área de sustentabilidade”, avalia o analista da Chemyunion.
É nesse cenário que se destaca o Chemycare EcoProtect, um biopolímero desenvolvido pela Chemyunion que, de acordo com Camelim, contém aproximadamente 85% de naturalidade e é totalmente biodegradável, seguindo os 12 princípios da química verde, que visam minimizar o uso de substâncias tóxicas e resíduos, promover eficiência energética e utilizar matérias-primas renováveis. “O Chemycare EcoProtect aumenta a resistência dos tecidos e protege as fibras têxteis, oferecendo uma solução eficiente e ecológica para o setor”.
Camelim ressalta que testes laboratoriais comprovaram que o produto proporciona 70% mais proteção contra o pilling e reduz a deformação dos tecidos em mais de 25%, garantindo maior durabilidade e qualidade. “A aplicação de Chemycare EcoProtect em produtos de cuidados com as roupas pode contribuir para um futuro mais sustentável”, completa.
Quelante vegetal
Dayane Reis Jacomassi, gerente de serviços técnicos de Cleaning Goods da Nouryon
